O ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira está convencido de que não existe espaço para a terceira via nas eleições e vai apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno da disputa ao Planalto. Integrante da velha guarda do PSDB, Aloysio avalia que o ex-governador de São Paulo João Doria não tem como emplacar sua pré-candidatura e já foi rifado pelo partido.
Sob o argumento de que estamos diante de “uma situação catastrófica”, o ex-ministro das Relações Exteriores no governo de Michel Temer e da Justiça na gestão de Fernando Henrique Cardoso vai além: diz ser preciso criar um amplo movimento em torno de Lula, desde já, para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O segundo turno já começou e eu não só voto no Lula como vou fazer campanha para ele no primeiro turno”, disse Aloysio. “Não existe essa terceira via; só existem duas: a da democracia e do fascismo. Se quisermos salvar o Brasil da tragédia de Bolsonaro, teremos de discutir o que vamos fazer juntos”, emendou o ex-ministro.
Diante do isolamento de Doria, a tendência de tucanos históricos, como José Aníbal e Arthur Virgílio, por exemplo, é aderir à campanha de Lula. A expectativa é em relação ao momento em que o ex-presidente Fernando Henrique seguirá a mesmo caminho.
Aloysio puxou a fila, mas FHC – que no ano passado se reuniu com Lula – tem repetido que só estará com o petista caso Doria não vá para o segundo turno. Até hoje, no entanto, após muitas brigas, idas e vindas, não se sabe nem mesmo se o ex-governador conseguirá ser candidato.
Em conversas reservadas, Lula já disse que, se for eleito, pretende chamar expoentes do PSDB para compor o governo e ocupar ministérios. O Estadão apurou que o nome de Aloysio está na lista, mas ele diz nunca ter tratado do assunto.
Na prática, o primeiro sinal de que o ex-presidente planeja atrair integrantes do PSDB foi dado quando ele convidou o ex-governador Geraldo Alckmin para vice. Depois de muitas críticas por se aliar a um antigo adversário, Alckmin se filiou ao PSB e, tirando proveito de seu apelido, até batizou a chapa de “Lula com Chuchu”.
Mesmo sem avançar casas no jogo, porém, Doria é o pré-candidato aprovado nas prévias do PSDB, que custaram R$ 12 milhões, em novembro. Venceu Virgílio e o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite. Está claro, no entanto, que o comando do partido não sabe o que fazer com ele.
Agora, o PSDB, o MDB e o Cidadania decidiram promover uma rodada de pesquisas para verificar quem tem mais viabilidade eleitoral, se Doria ou a senadora Simone Tebet (MDB-MS). O União Brasil deixou o grupo, que se autointitula “centro democrático”, e lançou a candidatura deLuciano Bivar. No mercado da política, a indicação é vista como chamariz para negociar vantagens à legenda, que tem o maior tempo de TV para oferecer como dote no horário eleitoral, além de R$ 1 bilhão em recursos públicos.
Ciro Gomes (PDT), por sua vez, corre em raia própria e faz acenos a Tebet para que ela seja vice em sua chapa. A proposta não tem eco. Ninguém nesse jogo aceita ser vice e tudo parece caminhar para Tebet, e não Doria, vencer o “paredão” que escolherá o desafiante da terceira via.