(16) 3826-3000
(16) 9.9995-9011
Home / Brasil / Intrigas na Meta: o que diz o livro que Mark Zuckerberg não quer que você leia

Intrigas na Meta: o que diz o livro que Mark Zuckerberg não quer que você leia

Escrito pela ex-funcionária Sarah Wynn-Williams, ‘Careless People’ conta sete anos de bastidores da liderança da companhia ela buscou o lucro acima da segurança de seus usuários

Por Bruna Arimathea– Estadão

Manter uma das maiores empresas de tecnologia do mundo em funcionamento é uma tarefa que requer inteligência e ambição, duas das coisas que Sarah Wynn-Williams admirava nos diretores do Facebook. Mas depois que as redes sociais se tornaram um ativo de poder, interesses maiores se impuseram sobre a utopia de ser um canal de conexão de pessoas do mundo inteiro.

Essa é a história narrada pela ex-diretora de relações globais da Meta, Sarah Wynn-Williams, em seu livro Careless People (Pessoas Indiferentes, em tradução literal), lançado em março deste ano, que conta os bastidores controversos das decisões da cúpula formada por Mark Zuckerberg, Sheryl Sandberg e outros executivos.

O livro, que se tornou um best-seller do New York Times, vai do otimismo de Sarah com o potencial do Facebook de mudar o mundo até a certeza que que a empresa criada por Zuckerberg pode ser um dos caminhos para destruí-lo. Talvez, esse seja um dos motivos pelos quais o empresário e a Meta entraram na Justiça dos EUA com uma ordem de silêncio, que impede a autora de falar sobre a empresa.

Outra possível razão pela mordaça é porque autora afirmou que a empresa tinha apenas um funcionário no mundo inteiro que falava birmanês, língua oficial de Mianmar, enquanto o país estava convocando exércitos e divulgando mensagens explícitas de violência pela rede social. Sarah também enfatizou em vários capítulos que a Meta estava disposta a colaborar com o Partido Comunista Chinês para lançar sua operação no país.

A repercussão foi tão grande que o senado americano convocou Sarah para depor em uma audiência de investigação sobre a relação da Meta com a China e os esforços da empresa em entrar no país. Mas, apesar desse ser o fato que mais chamou a atenção das autoridades (e de algumas outras figuras) nos Estados Unidos, são outras revelações que fazem o leitor comum entrar nos bastidores de anos turbulentos da Meta.

Primeiros anos

Neozelandesa, Sarah foi para os Estados Unidos para trabalhar na ONU em um papel diplomático. Quando conheceu o Facebook, no início dos anos 2000, a autora conta, – com um otimismo que é quase impossível imaginar que um dia tenha sido verdade – que acreditava ter encontrado a próxima ferramenta que ia mudar o mundo. Afinal, o Facebook estava crescendo em um momento no qual as pessoas estavam usando a plataforma para se conectar com parentes distantes, amigos e para dar recados, como avisar que estavam bem durante um terremoto.

Sarah se convenceu de que uma plataforma desse porte precisava de um responsável pelas relações políticas com outros países e, depois de meses de reuniões para convencer também os executivos da empresa de que esse era um cargo necessário, foi contratada em 2011.

Apesar de ter conseguido o emprego dos sonhos, os problemas não demoraram a aparecer, segundo a autora.

Negócios

Os relatos de Sarah vão desde os escândalos de Sheryl Sandberg, a diretora de operações e braço-direito de Zuckerberg, por conta de uma cabeleireira não ter seguido suas instruções até revelações de como os negócios eram conduzidos internamente.

Em uma das viagens, por exemplo, Sarah conta que uma reunião da diretoria antes de uma série de reuniões na Tailândia foi feita dentro da piscina do quarto de Zuckerberg – em um momento onde ela descreve que a conversa anterior era sobre paternidade e que Zuckerberg afirmou que provavelmente “algo mais importante” iria aparecer enquanto sua esposa, Priscilla, estivesse no parto.

Em outra reunião, durante uma visita à Colômbia para negociar a implementação do internet.org, um projeto antigo de Zuckerberg para levar uma rede internet atrelada às suas plataformas para lugares com dificuldade de conexão, Sarah conta que foi colocada em um carro 4×4 com outros colegas e levados pelo grupo Forças Revolucionárias da Colômbia (Farc) para uma região afastada da floresta, com o objetivo de ver onde a rede seria implementada. A rede também foi negociada no Brasil, mas recusada.

Mas não foram apenas as viagens que deram errado, na visão de Sarah. Para ela, a ambição foi responsável por colocar o lucro acima de outros aspectos. Ela conta que Zuckerberg passou anos negociando com autoridades chinesas para que o Facebook pudesse ser viabilizado no país. Por conta da vigilância governamental e do controle do Partido Comunista Chinês sobre a vida digital de seus cidadãos, o projeto não seria aprovado se os dados dos usuários não fossem armazenados no país, possibilitando que o governo tivesse acesso às informações se e quando fosse preciso.

O embate era caro para a empresa: ao mesmo tempo em que concordar com a proposta era deixar uma porta aberta para o governo chinês vigiar seus usuários, a quantidade de contas novas registradas ultrapassaria qualquer outro país que já tivesse a plataforma. Mesmo sem ter acesso ao app, a China já era a segunda maior fonte de receita da empresa apenas com publicidade.

Careless People foi lançado em março deste ano e rapidamente se tornou um best-seller do New York Times
Careless People foi lançado em março deste ano e rapidamente se tornou um best-seller do New York Times Foto: Macmillan Books/Divulgação

Questões “existenciais” de Zuckerberg também são salpicadas ao longo do livro, como quando o executivo cogitou fazer uma oferta pelo Twitter (agora, X) em 2017 para ter uma maior influência na mídia, ou quando ele pediu para que sua equipe organizasse um protesto em seu nome em Jakarta, para mostrar para as autoridades que ele era famoso e importante – e, por consequência, o Facebook também.

A obra é um relato pessoal – e, por isso, carrega viés – de uma funcionária de alto escalão que viveu de perto vários momentos de tensão dentro da empresa. E, ao mesmo tempo em que parece exagerado, é completamente crível dentro de tudo o que se revelou posteriormente sobre a empresa: o caso Cambridge Analytica, Facebook Papers, audiências no senado americano e comentários dos próprios ex-executivos, incluindo Sarah, que faz um mea culpa porque também foi uma das pessoas que estava envolvida em diversos assuntos controversos da empresa.

A Meta negou todas as acusações feitas e afirmou que a ex-funcionária foi demitida da empresa por problemas de performance em 2018. Pouco antes da demissão, Sarah fez uma reclamação formal ao RH sobre assédio da parte de Joel Kaplan, atual diretor de relações globais da Meta, mas a investigação da empresa não chegou a nenhuma conclusão.

Publicidade

“Careless People” ainda não tem previsão para ser traduzido para o português e está disponível em inglês pela editora Macmillan Books por US$ 32,99. O E-book em inglês pode ser encontrado na Amazon por R$ 94,90.

Foto do autor
Análise por Bruna Arimathea

É jornalista formada pela Universidade de São Paulo (USP) e repórter de Tecnologia no Estadão desde 2021. Coautora do podcast “Alcântara: o desastre espacial brasileiro”.

Esta notícia foi lida 203 vezes!

Autor redacao

Deixe uma Resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios são marcados *

*


Popups Powered By : XYZScripts.com