O programa econômico argentino não configura um plano consistente e vai naufragar. Seu grande sucesso inicial, a produção de superávit fiscal em janeiro e fevereiro, o primeiro em uma década, que tanto impressionou muitos analistas, é simples de ser produzido. Com inflação de dois dígitos, bastam alguns cortes nominais de pagamentos e transferências para se conseguir quedas reais brutais, como as que se observaram.
O difícil será sustentar esses ganhos em um regime democrático, pelo tempo suficiente para abafar a inflação, em meio ao aumento da pobreza e à forte recessão que serão inevitáveis.
Antes de tudo, é preciso ter em mente que as famílias e as empresas na Argentina dividem-se em dois grupos: os que só têm pesos (como aposentados e muitos assalariados) e os que têm pesos e moeda estrangeira. O fato de todos eles fazerem contas em dólar só torna mais aguda a dicotomia.
O dito plano é simples: após uma desvalorização nominal no câmbio oficial, liberam-se preços e tarifas (que na maior parte dos casos são multiplicados por três ou mais) e cortam-se as transferências públicas, que mantêm a inflação alta e produzem uma enorme contração de renda. Por exemplo, ao cabo do primeiro bimestre, em termos reais, as receitas caíram mais de 8%, os gastos primários caíram 28%, as transferências às províncias, 33%, e os dispêndios de capital, 73%.
A grande pergunta é se esse padrão será minimamente sustentável, questão que ganha força se notarmos que o dólar oficial já valorizou 35% desde a última mudança. Vamos ter outra correção?
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