Decisão acontece no momento em que Rússia envia militares para o sul do país – incluindo tropas da Coreia do Norte
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou a Ucrânia a usar armas americanas de longo alcance no território da Rússia, país contra quem os ucranianos travam uma guerra iniciada em 2014 e intensificada em 2022.
A autorização de Biden foi confirmada à CNN por duas autoridades americanas ligadas à decisão.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, reagiu à notícia neste domingo (17), via aplicativo Telegram.
“Ataques não são feitos com palavras. Essas coisas não se anunciam. Os mísseis falarão por si mesmos”, afirmou, em vídeo.
Estima-se que os mísseis podem atingir uma distância de 320 km, raio suficiente para alcançar partes do sul do território russo, na fronteira com a Ucrânia.
Contexto
A decisão foi tomada no momento em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, enviou quase 50 mil soldados para Kursk, no sul da Rússia, onde a Ucrânia lançou uma contra-ofensiva em meados deste ano.
Por enquanto, a Ucrânia deve concentrar o uso dos mísseis de longo alcance principalmente em Kursk, segundo uma autoridade americana.
A incursão ucraniana na região está estagnada há três meses.
A Rússia estaria tentando afastar a Ucrânia do território, que poderia servir como uma moeda de troca para os ucranianos em quaisquer negociações de paz no futuro.
A ideia com a liberação para o uso dos mísseis, de acordo com esta autoridade dos Estados Unidos, é fazer com que a Ucrânia consiga manter controle sobre Kursk pelo maior tempo possível.
Coreia do Norte
Outro desdobramento recente em Kursk diz respeito aos milhares de militares da Coreia do Norte mobilizados pela Rússia em ofensiva na região.
Na terça-feira (12), o Departamento de Estados dos EUA disse que 10 mil soldados norte-coreanos foram enviados à Rússia e “começaram a se envolver em operações de combate com forças russas” em Kursk.
Um comandante ucraniano – em condição de anonimato – disse à CNN que as tropas norte-coreanas eram um “recurso significativo” para a Rússia.
Com os norte-coreanos em posições defensivas, militares russos poderiam ser liberados para operações de ataques em outros lugares.
ATCMS
O uso do ATACMS – ou Sistema de Mísseis Táticos do Exército – dentro da Rússia estava sendo considerado há meses pelas autoridades americanas.
O governo dos EUA estava dividido sobre seu uso – alguns temiam a escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia, enquanto outros se preocupavam com a diminuição dos estoques de armas do país.
Os EUA se recusaram a fornecer ATACMS para a Ucrânia nos dois primeiros anos da guerra – em parte, porque os mísseis poderosos exigem tempo e componentes complexos para serem produzidos.
Porém, no início deste ano, Biden aprovou a transferência dos mísseis para uso dentro do território ucraniano, e os EUA entregaram secretamente os ATCMS ao país em abril.
Zelensky vinha pressionando os EUA para permitirem o uso das armas também dentro da Rússia, argumentando que precisava delas para ganhar impulso em seu esforço de guerra.
Quando Biden e Zelensky se encontraram pela última vez na Casa Branca, em setembro, o líder ucraniano foi aos EUA com uma lista detalhada de alvos dentro da Rússia que ele queria atingir com mísseis de longo alcance, de acordo com fontes familiarizadas com a reunião.
A lista seria uma parte fundamental do “plano de vitória” de Zelensky para vencer a guerra.
Biden não rejeitou totalmente o pedido, disseram as fontes. Mas ele acabou não se comprometendo, e os líderes concordaram em continuar discutindo a questão.
Reação e alvos
O presidente Vladimir Putin alertou o Ocidente em setembro que a Rússia poderia usar armas nucleares se fosse atingida por mísseis convencionais, e que Moscou consideraria qualquer ataque apoiado por uma potência nuclear como um ataque conjunto.
A declaração foi a resposta da Rússia às discussões na época nos EUA e no Reino Unido sobre dar ou não permissão à Ucrânia para disparar mísseis ocidentais convencionais contra a Rússia.
Durante meses, autoridades dos EUA deram diversas justificativas para dizer que mudar a política para o conflito não resultaria em diferenças substanciais no campo de guerra.
Um dos argumentos americanos era que a Ucrânia tem uma indústria nacional de drones em crescimento, e ela seria capaz de fabricar drones de ataque unidirecionais com alcances maiores do que os ATACMS.
O alcance aproximado de 320 km dos mísseis dos EUA não é suficiente para infligir danos substanciais em um dos alvos mais visados pela Ucrânia: as aeronaves russas que lançam bombas planadoras de longo alcance contra alvos ucranianos.
Uma autoridade dos EUA estima que 90% dessas aeronaves estavam fora do alcance do ATACMS – e a Rússia segue afastando alvos-chave da linha de frente do conflito.
Trump
Biden têm trabalhado junto a países aliados para garantir que a Ucrânia tenha o que precisa para a guerra até o final de 2025, como uma forma “proteger” os ucranianos do presidente eleito dos EUA Donald Trump.
Trump tem repetidamente afirmado que a guerra no Leste Europeu não teria começado se ele estivesse na presidência do país – ele deixou o poder em 2020, após perder para Biden.
Na sexta-feira (15), Zelensky disse que a guerra “terminará mais rápido” com Trump no poder. O líder republicano já afirmou que poderia resolver a guerra em um dia – sem dizer como faria isso.
Um porta-voz de Trump no processo de transição entre as administrações optou por não comentar diretamente as notícias de que Biden havia autorizado a Ucrânia a usar mísseis americanos de longo alcance dentro da Rússia.
“Como o presidente Trump já disse durante a campanha: ele é a única pessoa que pode unir os dois lados para negociar a paz e trabalhar para acabar com a guerra e a matança”, disse Steven Cheung à CNN.
Cheung também não respondeu a perguntas sobre se Trump ou seus novos conselheiros de segurança nacional haviam recebido um aviso prévio do governo Biden sobre a decisão.
* Com colaboração de Jack Forrest, Victoria Butenko, Katie Bo Lillis, Kylie Atwood, Helen Regan, Gawon Bae e Steve Contorno
Fonte: https://www.cnnbrasil.com.br/
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