Por Mauro Beting – Estadão
Semifinal da Libertadores de 2020, jogo de volta no Allianz Parque. O River Plate era o time que melhor jogava no continente na década passada. Mas quem jogara mais partidas em 12 meses havia sido o desgastado Palmeiras. Fez 61 jogos contra apenas 28 do rival.
Em Avellaneda, enquanto o Monumental de Núñez era reformado, e ainda sem torcida por causa da pandemia, o Palmeiras aguentou a pressão inicial e abriu vantagem inesperada, com um 3×0 que quase acabou quatro, num show dos jovens e valentes volantes Gabriel Menino, Patrick de Paula e Danilo. Os Três Porquinhos derrubaram o favoritismo rival, com gols de Rony, Luiz Adriano e Viña.
Na volta, em 12 de janeiro de 2021, os 90 minutos parecem ter durado 90 dias de dureza. Ou 110 anos. Ou ainda não acabaram. Nunca o palmeirense sofreu tanto. Tão fatalista, pessimista ou apenas “parmeirista” com pavor de parmerada. O Palmeiras podia ter feito 1 a 0 de cara, com Rony. Mas, ao final, a derrota por 2 a 0 parecia o 8×0 contra o Corinthians, em 1933. Um atropelo.
Não foi por soberba que o time jogou muito mal contra um adversário que voltou a jogar bem demais. Foi paúra e pedrada mesmo depois de levar o gol de Rojas, aos 28 iniciais. O Palmeiras foi se rendendo e rezando pelo intervalo até levar o segundo gol, quando toda a defesa viu Borré ampliar. Quando o time já havia perdido o lesionado Gómez.
Na segunda etapa mais longa desde 1914, o VAR foi mais palmeirense que a “equipa de Abel”. Não houve apito muy amigo a favor da equipe da casa. Apenas justiça em lances ajustados: na origem da jogada anulada do terceiro gol argentino (aos 6 minutos, anotado por Montiel) havia um impedimento que só o VAR para ver; aos 29, no pênalti cancelado (pelo vídeo) de Alan Empereur, o atacante Suárez dobra as pernas e se projeta cavando a falta; no segundo pênalti revisado, de Kuscevic em Borré, aos 53, havia impedimento que o VAR só viu depois de o árbitro ter sido chamado para rever o lance de infração no gramado. A jogada já era irregular antes da falta discutível que “chamou” o árbitro para o monitor no gramado.
O segundo amarelo de Rojas foi justo, aos 28 minutos. Mas, mesmo com 10, quase nada fez o Palmeiras saudoso da bola e da torcida também ausente. Foram duas chances alviverdes no primeiro tempo. O River empilhou oportunidades. Ao menos 12, quatro negadas por Weverton em noite de Marcão. Mais os lances polêmicos. O que foi Palmeiras o Verdão em Avellaneda acabou sendo uma avalanche do River no Allianz Parque.
Não fosse o VAR que foi mais palmeirense que o Palmeiras, e tão necessário e correto (e que tanto faltou contra o Boca em 2000, e ainda mais em 2001), não teria Maracanã 2.0 2020. Provável que não tivesse Centenário Eterno em 2021.
Além da atuação perfeita do VAR, um lance merece sempre ser lembrado. E um nome não pode ser esquecido. Nem o tempo: Emerson Santos. Aos 83min09s.
Escanteio da esquerda no segundo pau: Maradona cabeceia (todos do River eram Diego naquela hora), Weverton faz outro milagre, Di Stéfano (todos eram La Saeta Rubia) chuta na trave, e, na sobra, de voleio, Messi (você já sabe, eram 33 craques do River contra 4 sub-5 do Palmeiras) manda pro gol, com o goleiro já batido – mas não Émerson Santos, que salva de cabeça sobre a linha.
O bandeirinha marcou impedimento. Mas o lance era legal. Se o gol acontecesse, o VAR validaria. Não havia irregularidade. Seria 3×0 se a bola entrasse. Pênaltis, no mínimo. Penalidade máxima para o palmeirense.
Para piorar o desespero daqueles 106 minutos, todos os alviverdes estavam sozinhos. O time, desamparado. Ninguém podia ir ao estádio, não dava para reunir os amigos num bar, na casa de alguém, ou, pelas circunstâncias, numa roda de oração. Sem o conforto de outros palestrinos, o jeito foi comemorar sozinho. Isso pra quem conseguiu comemorar. Para muitos, sobrou só alívio em uma noite mal jogada. E não dormida.
Depois de tudo que o alviverde sobreviveu em 2020, a volta de 2025 foi um passeio no Parque, Allianz. Com três minutos, o Palmeiras teve uma chegada muito boa que poderia ter aberto o placar. Com a mesma ideia de jogo, com a mesma movimentação das ótimas partidas recentes. Mas, aos 7 minutos, uma falta desnecessária de Gómez pela lateral direita originou um cruzamento em que Salas, entre Piquerez e Flaco, cabeceou sem defesa para Weverton. Como o gol de Gómez, em Núñez.
O Palmeiras não sentiu a derrota que levava aos temíveis pênaltis. A torcida gritou, como faz sempre no Allianz Parque, e o jogo ficou mais equilibrado. Mas, a cada momento mais nervoso. O River Plate jogava e marcava o que não havia feito em casa. Catimbava e o Palmeiras caía na pilha. E com dificuldades, mas não estava jogando mal. Ainda assim, a melhor oportunidade seria no final da primeira etapa, quando Weverton salvou em uma belíssima saída usual e, no rebote, o River isolou a bola.
Na volta, o plano inclinado do Gol Sul era o plano de Abel. Com 5min, Vítor Roque empatou. Na sequência, Acuña fez tudo para ser expulso. O apito fez que não era com ele. As boas mexidas de Gallardo colocaram o River perto da meta de Weverton. Mas o paredão fez mais ainda e segurou a bronca. O Palmeiras resolveu definir a parada e se expôs.
Mas tudo é o time da virada. Tudo dá muito certo. Merecidamente correto. Pênalti em Facundo. Gol de López. Belo contragolpe, mais um gol de Flaco.
É o Palmeiras que faz sofrer seu torcedor até quando ganha e se classifica de modo incontestável. É a equipa de Abel que faz sofrer ainda mais quem torce contra.
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