A guerra em curso na Faixa de Gaza teve vários desdobramentos nesta sexta-feira, 3. Primeiro, o Hamas aceitou partes da proposta do presidente Donald Trump para encerrar o conflito. Em seguida, Trump comemorou a resposta do grupo terrorista e ordenou que Israel interrompesse os ataques. Por fim, o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu disse estar pronto para implementar a primeira parte do plano.
Mas o que tudo isso significa na prática? É o fim da guerra? O que acontece agora?
A declaração do Hamas sobre o aceite em partes do acordo, como a devolução de todos os reféns restantes e a disposição para a transição do governo em Gaza ainda deixou pontos importantes na mesa de negociações.
Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, explica que a disposição declarada de entregar a administração a um corpo tecnocrático e a libertação dos reféns podem abrir caminho para um cessar-fogo temporário, mas mas ainda não resolvem as demandas centrais da guerra.
“O Hamas diz que quer negociar, o controle final, a retirada de tropas, o reconhecimento político da Palestina. Ou seja, muda condições táticas e humanitárias a curto prazo, mas não garante uma solução política duradoura”, ele afirma.
Karina Calandrin, professora no Ibmec e pesquisadora de pós-doutorado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), também explica que a aceitação parcial do Hamas não significa, por si só, uma virada imediata no conflito, mas sinaliza que o grupo está tentando reposicionar sua posição politica.
“A possibilidade de ceder poder político em Gaza pode ser uma forma de manter influência indireta, ao invés de arriscar perder relevância num cenário de reconstrução conduzido por outros atores”, destaca.
A guerra desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas já deixou mais de 80% da população de Gaza deslocada, infraestrutura destruída, falta crônica de alimentos, água, energia, medicamentos. Esse cenário, os especialistas explicam, pressionou o grupo a rever seu posicionamento.
“É melhor abrir espaço a um governo de transição do que perder completamente a legitimidade ou ser destruído militarmente. Não é uma renúncia total ao poder que o Hamas faz, mas uma forma de ganhar tempo e manter a relevância sem carregar o peso do colapso civil”, Brustolin explica.
Obstáculos da proposta
Pela proposta de 20 pontos de Trump, Gaza ficaria “sob a governança transitória temporária de um comitê palestino tecnocrata e apolítico, responsável pela administração diária dos serviços públicos e municípios”, mas o comitê seria supervisionado por um novo órgão internacional transitório, liderado por Trump, o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, e “outros membros e chefes de Estado a serem anunciados”.
Os especialistas explicam que a proposta de Trump exige o desarmamento do Hamas, contudo o grupo condiciona a medida ao fim da ocupação israelense. “O plano não resolve questões centrais, como fronteiras, o status de Jerusalém, direito de retorno. Portanto, não é uma paz definitiva. É um primeiro passo”, explica Brustolin.
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