Dos frutos das oliveiras que cobrem as colinas de Viamão, a 21 km de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, é extraído um azeite brasileiro que vem se destacando entre os mais premiados do mundo. O óleo produzido pela Estância das Oliveiras conquistou o troféu Best in Class e sete medalhas no concurso Anatolian iOOC, um dos principais do setor, em abril deste ano. Em 2024, a Estância ficou em primeiro lugar no Prêmio Mario Solinas Quality Award, organizado pelo Comitê Oleícola Internacional (COI), órgão que normatiza a olivicultura no mundo
O reconhecimento que coloca o azeite da Estância das Oliveiras como o mais premiado do Brasil e entre os cinco melhores do mundo não veio por acaso. Foram nove anos de pesquisas para preparar as condições perfeitas para o solo e selecionar as dez variedades que abastecem o lagar (onde o azeite é extraído). Tudo começou há 22 anos, quando o gaúcho de Passo Fundo Lucídio Morsch Goelzer atuava no comércio exterior e viajava com frequência à Europa. Apreciador do azeite, trazia garrafas para consumir com a família e comparava com os produtos locais, que considerava qualidade inferior. Goelzer decidiu, então, produzir seu próprio óleo de oliva.
O olival iniciou com 1,5 hectare na propriedade da família e pesquisas apoiadas pela Embrapa, com 36 variedades trazidas de diferentes países, até chegar à seleção atual de dez, mais produtivas e adaptadas à região. “Na época não se falava em olivicultura nacional e só há 14 anos conseguimos colher os primeiros 20 quilos de azeitona. Ali nasceu uma paixão”, conta André Sittoni Goelzer, diretor operacional da Estância. Ele lembra que foi preciso neutralizar a acidez do solo com calagem de calcário e gesso agrícola. “Nosso solo é muito diferente do das regiões produtoras da Europa, de alto teor calcário”, explica. Para reduzir o impacto da umidade no Rio Grande do Sul, onde há mais chuvas, o espaçamento entre as plantas foi maior. As copas ficam mais acessíveis à luminosidade.
Atualmente, a Estância mantém 28 hectares de oliveiras – cerca de 180 plantas por hectare – nas colinas da propriedade. A adubação é 100% orgânica e o solo coberto por forrageiras. Nas bordas com matas foram dispostas 157 colmeias de abelhas sem ferrão que fazem a polinização natural das oliveiras. Na segunda semana de setembro, as plantas começaram a florir. As abelhas são espécies pequenas, como jataí e iraí, capazes de acessar o interior das flores, o que é muito importante, já que boa polinização é essencial para a produção. Entre as variedades cultivadas estão a arbequina, arbosana los dos, picual (espanhola), coratina (italiana) e koroneiki (grega). Para proteger flores e frutos da chuva, a Estância passou a testar a cobertura das árvores com plástico transparente de estufa. “É um sistema que desenvolvemos aqui e logo saberemos se funciona, comparando com as áreas não cobertas”, diz Goelzer.
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