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O plano de Milei naufragou? Para analistas, eleição de outubro definirá futuro da economia argentina

Com escândalos e derrotas políticas, o presidente argentino luta para manter a confiança dos investidores e avançar com reformas econômicas

Foto do autor Luiz Guilherme  Gerbelli
Por Luiz Guilherme Gerbelli – Estadão

O programa econômico do presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta uma encruzilhada. Com a queda da aprovação do governo e a crescente incerteza do mercado financeiro em relação ao futuro do país, as eleições legislativas nacionais de outubro serão fundamentais para definir se o líder argentino vai conseguir avançar com as medidas para estabilizar a economia. Até lá, a população segue em compasso de espera.

Desde que o escândalo envolvendo a irmã de Milei eclodiu — Karina Milei foi acusada de cobrar propina de indústrias farmacêuticas —, o presidente argentino passou a viver uma combinação perversa, colocando em xeque a confiança dos investidores no país. No início deste mês, foi duramente derrotado na eleição local da província de Buenos Aires e perdeu batalhas importantes no Congresso, num momento em que o apoio de governadores mais moderados está estremecido e a economia dá sinais de estagnação.

O resultado da eleição em Buenos Aires chocou porque a expectativa era de uma derrota de Milei por cinco pontos, no máximo, mas a diferença foi de quase 14 pontos porcentuais. No dia seguinte, os ativos da Argentina se deterioraram.

Na eleição legislativa de 26 de outubro, metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado estarão em disputa. Os investidores vão se debruçar sobre o resultado que sairá das urnas — e o que ele vai apontar para o futuro do país. Um apoio expressivo do eleitorado será fundamental para Milei mostrar que ainda tem força popular para seguir adiante com o seu programa de estabilização.

“Se o resultado for favorável, Milei vai ganhar densidade política na Câmara dos Deputados e entre os senadores, o que lhe permite negociar com muito mais força reformas importantes que a Argentina ainda tem de levar adiante”, afirma Dante Sica, sócio-fundador da consultoria Abeceb e ex-ministro da Produção e do Trabalho.

O número mágico que Milei busca alcançar é um terço dos assentos na Câmara dos Deputados, o que é suficiente para evitar a derrubada de decretos presidenciais, funcionando como uma espécie de “escudo” à administração federal. Hoje, a base de apoio do presidente da Argentina é de cerca de 15%. Embora seja um governo de minoria, Milei sempre tinha encontrado espaço para negociar medidas importantes.

“Com esse um terço, o governo pode ter o seu escudo que lhe dê maior governabilidade e vai poder continuar com seu plano de maneira mais firme”, afirma Roberto Nolazco, gerente de assuntos públicos para a América Latina da consultoria Prospectiva.

Tamanha incerteza com o rumo da economia tem resultado em muita volatilidade no câmbio local, que opera atualmente por um sistema de bandas — hoje, ela varia de 946,22 pesos argentinos a 1.478,75 pesos argentinos. Com o receio de que o programa de Milei não siga em frente, o peso chegou a tocar o teto da banda móvel, e o Banco Central da Argentina precisou intervir no mercado para segurar a cotação da moeda.

“O Milei vinha de grandes vitórias regionais. Não se pode apagar isso. Mas houve esse revés e entra nessa espiral negativa. O mercado deixa de acreditar que ele vai conseguir um resultado bom e passa a entender que o governo vai entrar numa dinâmica de parar as reformas que vinha conduzindo. Isso promove uma fuga de capitais e acaba fazendo com que o governo tenha de atuar sobre o mercado”, afirma Matheus Spiess, estrategista e economista da Empiricus.

Como em um filme repetido de crises passadas, a Argentina se vê de novo com o risco de falta de dólares. Os economistas estimam que as reservas líquidas argentinas somam em torno de US$ 6 bilhões a US$ 8 bilhões. Um montante que traria um amplo conforto seria de US$ 70 bilhões.

Nos cálculos dos economistas, o governo teve de colocar cerca de US$ 1 bilhão no mercado para tentar contrabalancear esse movimento do câmbio. E, num país que tem lidado com o caos econômico nas últimas décadas, qualquer sinal de desorganização é um estopim para a classe média voltar a comprar dólares e deixar de acreditar na sua moeda local.

“Se o Milei tem uma boa eleição, eu acho que esse tipo de campo não vai sofrer pressão. A flutuação pura é melhor do que a banda. Mas com uma boa eleição, o governo vai ter tempo para mudar a política cambial. Não tem de fazer na segunda-feira (depois da eleição)”, afirma um economista argentino de um banco, que pediu anonimato.

Nesse cenário de incerteza crescente, a Argentina ganhou apoios importantes na última semana. Aliado ideológico de Milei, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, saiu em socorro do líder argentino. Na quinta-feira, 24, o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, afirmou que os EUA estão negociando uma linha de financiamento temporária (swap line) com o Banco Central da Argentina no valor de US$ 20 bilhões. Ele também disse que os americanos estão dispostos a comprar dívida primária ou secundária do país sul-americano.

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