O advento da diplomacia digital mudou essa dinâmica. As representações diplomáticas no exterior continuaram tendo um papel político – mas esse foi ficando cada vez mais restrito a formalidades ou à tarefa de reduzir atritos que se originavam em outros canais. Membros do governo, muitas vezes o próprio presidente, passaram a usar as redes sociais para dar recados diretos e públicos a outros países, sem se valer da intermediação da diplomacia oficial ou das embaixadas. As fontes da diplomacia pública se multiplicaram.
O presidente americano Donald Trump usou esse recurso com empenho em seu primeiro mandato (2017-2021), disparando tuítes contra a então chanceler alemã Angela Merkel, o presidente francês Emmanuel Macron, a premiê britânica Theresa May e o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau. As embaixadas não costumavam compartilhar os ataques. Depois, invariavelmente, diplomatas americanos engajavam-se em conversas nos bastidores em um esforço de contenção de danos.
Mesmo nos casos em que os embaixadores americanos amplificavam as críticas de Trump, como fez Richard Grenell na Alemanha de 2018 a 2020, isso se dava principalmente em torno de discordâncias entre os dois países sobre temas internacionais (por exemplo, sobre como lidar com o Irã, com a crise de refugiados ou com os gastos militares na Otan).
O que estamos presenciando na atual crise fabricada por Trump com o Brasil é algo diferente. A embaixada dos Estados Unidos em Brasília, sob o comando do encarregado de negócios Gabriel Escobar, não atua para minimizar as tensões, mas para ampliá-las. E as mensagens replicadas não são meras críticas, mas ameaças concretas para influenciar em assuntos internos do Brasil, que não dizem respeito aos Estados Unidos. Depois de quatro convocações de repreensão do Itamaraty, fica claro que a missão de Escobar é provocar o Brasil e obter a própria expulsão, com o intuito de acelerar a deterioração das relações bilaterais e justificar um rompimento diplomático.
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